"Descobri que meu jeito de enxergar e viver o mundo era através da fotografia"
A fotógrafa Mariana usa seu trabalho para criar e reelaborar conceitos de espaços e pessoas.
"Fotografar é relação, interação", diz Mariana. Foto: Mariana Alves.
Por Paulo Pessôa
Mariana Alves diz que já estava destinada à vida fotográfica. Desde que ganhou sua primeira câmera, aos 15, descobriu o mundo com o qual mais tarde viria a trabalhar. "Tinha acabado de ganhar uma câmera pequena, e não larguei mais. A partir desse momento, descobri que meu jeito de enxergar e viver o mundo, era através da fotografia". O amor pela fotografia a levou a cursar Jornalismo, juntando o que amava ao seu ganha pão.
A fotógrafa atua como fotojornalista e, além de ser jornalista, é especialista em História da Arte pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Na pós-graduação dedicou-se ao estudo da fotografia de família produzindo "Os Retratos da Família Sally Mann: da construção da memória à encenação". Ela tem experiência em áreas como editorial, museus, rua e eventos e desenvolve projetos pessoais nos quais exerce sua independência artística e fotográfica.
Esses projetos são fundamentais para Mariana exercitar seu olhar fotográfico e artístico. Apesar de defender e enfatizar seu trabalho com fotografia de rua – como forma de entender o espaço do profissional fotógrafo -, uma das suas mais trabalhosas produções é o "Não Repare na Bagunça", projeto que retrata espaços domésticos. A ideia surgiu como uma revisão dos espaços domésticos que estamos inseridos após Mariana ter analisado como essa representação foi feita em outros trabalhos.
O projeto “Não Repare na Bagunça” visita os espaços íntimos das pessoas explorando as definições de “lar”. Foto: Mariana Alves.
"Contar a história das pessoas através dos espaços mais íntimos, era algo que me encantava. Cada lugar tem uma história, cada um se coloca nesses espaços, e conseguimos ver muito da nossa vida e da nossa cultura através disso." afirma Mariana. O projeto teve que ser pausado por conta da pandemia da Covid-19 já que exigia interação próxima entre a profissional e as residências (e pessoas) fotografadas. Os efeitos da pandemia não foram sentidos apenas neste projeto da artista. "No caso da fotografia, ela impacta totalmente a forma como a gente trabalha. Afinal, fotografar é relação, interação. E estar longe disso tudo faz com que a riqueza desse processo não aconteça da forma como esperamos."
Apesar do impacto, Mariana destaca como a pandemia alterou o conceito de lar, residência e espaços domésticos, mudando o modo como vemos as moradias que se tornaram também local de trabalho, estudo e isolamento. "Acho que voltando esse projeto, vão ter outras questões, outras histórias e outras relações que vão aparecer depois disso tudo que a gente tá passando." afirmou a fotojornalista durante sua apresentação na III Semana de Fotografia Uninter, no qual debateu sobre o mercado fotográfico atual, sobre como montar projetos fotográficos e como construir um olhar fotográfico em um mundo onde a maioria das pessoas possuem uma câmera em seus aparelhos celulares.
"Contar a história das pessoas através dos espaços mais íntimos era algo que me encantava", explica Mariana sobre o que o projeto. Foto: Mariana Alves.
No mesmo evento, Mariana Alves também apresentou seu projeto ainda em construção, chamado "Moradas". A ideia era trazer em forma de ensaio fotográfico as residências de moradores da cidade de Porto Camargo no interior do Paraná. A concepção de moradia e tempo na cidade é outra; por conta do tamanho pequeno da cidade, as cenas têm sido congeladas no tempo. Estamos sempre indo atrás de novas histórias e novas formas de contar. Esse ano eu termino um trabalho com o lançamento de um livro e de uma exposição itinerante, que foi adaptada também para o período pandêmico", conta.
A pausa obrigatória nos dois projetos fez Mariana retomar olhares sobre a Fotografia de Rua que tinha no início de sua carreira como fotógrafa. Ela revisitou lugares que já conhecia, assim como conheceu novos - prática que faz questão de manter na sua vida profissional e que contribui para constantemente mudar sua visão sobre o mundo. "Acho que encontrar pessoas não só mudam nossa visão de mundo, como acrescenta e enriquece nossa vida. Encontrei muita gente, ouvi muitas histórias, e tudo isso é extremamente enriquecedor." reforça Mariana, sempre lembrando da interação necessária entre o fotógrafo e as pessoas fotografadas para evolução do olhar por trás da câmera.
A prática de estar sempre observando lugares ao redor, revisitando lugares antigos, conhecendo pessoas novas e lugares novos, é algo que Mariana Alves aconselha para fotógrafos iniciantes, visto que é uma rotina que mantém em sua carreira profissional e em seus trabalhos fotográficos pessoais: "Acho que a melhor coisa pra começar na fotografia é estar sempre fotografando. Não importa se em casa, na rua ou em festas, é estar atento, praticando o olhar. E nem é preciso tanto, pode ser até com o celular mesmo. Importante é ir praticando e pensando nessa construção mesmo".
"Encontrei muita gente, ouvi muitas histórias, e tudo isso é extremamente enriquecedor" reforça Mariana, lembrando da interação necessária entre o fotógrafo e fotografados. Foto: Mariana Alves.
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