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Memórias marcadas ao corpo


Placas das ruas Dr. Pedroso e Brigadeiro Franco, localização da antiga Clínica Marumbi. (Crédito: Renan Alex)

O exercício da cidadania é regido pela constituição cidadã, democrática. Nela, que infringe a legislação paga pelo crime e pode ser preso. Mas já pensou ser retirado do seu trabalho e ser levado à uma penitenciária, simplesmente por estudar Sociologia e História? Isso aconteceu com Ana Beatriz Fortes, em 1969, em plena ditadura militar. No Brasil, o Golpe Militar tem como marco o 15 de abril de 1964, quando Marechal Castello Branco assumiu o poder no país, após eleição indireta no Congresso, afirmando ameaças comunistas.

O que veio na sequência foram Atos Institucionais, ao longo dos 20 anos do regime, que legalizaram políticas e ações diretas de repressão aos opositores e a limitação da liberdade de imprensa e expressão, em praticamente 20 anos de regime militar. De acordo com a Comissão da Verdade, a ditadura militar torturou 1,8 mil pessoas no Brasil, deixou 434 mortos e desaparecidos, no fim, somente 33 corpos foram localizados.

Presa com 18 anos de idade, em Curitiba, Fortes comenta a respeito das torturas psicológicas e físicas, que muitas vezes ocorriam de um local ao outro. “Fizeram interrogatório, mostraram fotografias e queriam saber até onde eu participava, para identificar as pessoas, mas não sabia os nomes. Fiquei um dia todo no DOPS, depois me levaram para o quartel na Rui Barbosa, e 3 dias depois fomos para Foz do Iguaçu. Era sempre igual a tortura, levava choque, arma na cabeça com xingamentos, me amarravam, e o pior era pau de arara com os cabelos no balde de água e choque ao mesmo tempo”, relembra.

Fortes comenta que quando estava em Curitiba, de noite, em todos os dias, a levavam para uma clínica médica com militares. No entanto, esse deslocamento era feito de olhos vendados, então não saberia informar o local. Com base em pesquisas, a clínica na qual Ana Beatriz comentou, se chama Clínica Marumbi. Ela ficava nas dependências do que deveria ser o DRMS (Departamento Regional de Material de Saúde), entre as ruas Doutor Pedrosa e Brigadeiro Franco.

Foram duas décadas sem eleição direta e sem participação popular. Hoje, vivemos em uma democracia que busca ampliar os direitos do cidadão e nos defende enquanto pessoas. Entretanto, Ana Beatriz expressa sua preocupação com as novas gerações. “É importante resgatarmos essa história, pois há muitas pessoas que não tem muita noção, é preciso dar visibilidade. Estamos vivendo um momento de polarização política, com discursos de ódio, é preciso relembrar histórias difíceis como a minha”, enfatiza.

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