Tempos [ainda] modernos
A trama Tempos Modernos (1936) traz inúmeras reflexões. Um roteiro muito bem bolado com um quê da genialidade do cineasta, produtor, ator e músico Charlie Chaplin, caracteriza a passagem do cinema mudo para o audiovisual. O filme narra a história de Tramp, personagem conhecido entre os brasileiros como Carlitos, que pode ter a interpretação do malandro que tenta ganhar a vida de uma forma mais honesta, cujo personagem trabalhava tanto na fábrica que enlouqueceu.
Carlitos trabalha em uma fábrica, onde há câmeras por todos os lados. Não tendo sequer tempo para almoço ou descanso, onde a produção em massa é representada por sua função, que era a de apertar parafusos. Vamos lembrar um momento trivial da história americana: o que eram os Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial? Ora, apenas o país mais rico do mundo. Mais de uma década se passa e o consumo aumenta. O chamado "sonho americano" surge (interpretado no filme quando a órfã veste um penhoar todo pomposo remetendo ao luxo dos anos 1920) - papel interpretado pela atriz Paulette Goddard -, porém o país entra em crise em 1929. A Grande Depressão chega, a Bolsa de valores de Nova Iorque cai. O consumo de bens e artigos luxuosos fica à disposição da elite norte-americana, e a população mais pobre não segue o mesmo ritmo.
A superprodução agrícola e o grande número de fábricas se torna maior que a demanda. Logo a produção pipocava, com empresários atraídos pelo consumo e pelo avanço tecnológico passam a investir em mais fábricas e por ironia do destino acabam falindo. Com o trabalho dos empregados, passaram a produzir mais do que a população conseguia movimentar a economia.
Sabemos que o capitalismo visa ao lucro e quando a economia não está nada bem as pessoas não compram e o dinheiro não gira. Assim destaca-se outro ponto do filme: o desemprego e a fome. É o que acontece com os colegas de Carlitos, que depois em um assalto que coincidentemente o mesmo está trabalhando, torna-se um ladrão posteriormente, para poder alimentar os filhos. A questão que o filme traz é: até que ponto você iria para sobreviver?
A substituição do homem pela máquina é representada com a chegada de um engenhoso mecanismo que aparece no filme para compensar a hora do almoço dos funcionários (invento este que não dá certo). O conceito de Taylorismo (meio de produção com característica que cada trabalhador tem uma determinada atividade no sistema industrial, método hierarquizada e calculada, aumentando a produtividade no trabalho, criado por Frederik Taylor (1856-1915), destaca-se no filme também.
O filme é uma crítica ao país que (depois da Segunda Guerra Mundial) se consolidou como o mais rico e desenvolvido, os Estados Unidos da América. Grande parte na obra cinematográfica de Chaplin aborda questões para refletir. O eufemismo e a ironia são linguagens de pensamento que aparecem nos filmes do cineasta.
Veja também: “O Grande Ditador (1940)”; “Luzes da Cidade (1931)”; “O garoto (1921)”; “Casa de penhores (1916), entre outros para compreender a genialidade de Charlie Chaplin.
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Texto: Tayná Alberti Cardoso, Curitiba-PR | Especial para Revista F
Fotos: imagens do filme Tempos Modernos
Edição: Sionelly Leite