O conto da serva
The Handmaid’s Tale ou “O conto da serva” é uma série baseada em um livro de mesmo nome da escritora canadense Margaret Atwood. O título da série pode não causar espanto, ou interesse, mas ao sabermos do que se trata, claramente mudamos de opinião. Mas vamos ao que interessa...
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Aos poucos somos inseridos no enredo da série (e assistimos a tudo em linhas do tempo diferentes). Inicialmente, sabemos que estamos em uma época próxima aos dias atuais, tudo caminha normalmente até que a constituição dos Estados Unidos é revogada. Após esse acontecimento, é instaurada a República de Gilead – um governo totalitário que se baseia no velho testamento e na religião para reger a sociedade. Este governo se compromete a solucionar os problemas de infertilidade, poluição e crises financeiras pelos quais os Estados Unidos estavam passando.
Quem mais sofre com esse regime totalitário e teocrático são as mulheres, pois elas perdem todos os direitos que foram conquistados através de muita luta. Neste governo elas não podem votar, ter emprego, ter seu próprio dinheiro, imóvel, nome, enfim, as mulheres perdem o direito à liberdade. Porém, as pessoas só perceberam tarde demais. Quem se rebela contra o sistema é punido, a morte é preferível à tortura ou à mutilação.
Conhecemos esse universo através do olhar de June Osborne (Elisabeth Moss), uma mulher comum. Ela tem marido, filha, emprego. Até que tudo muda.
Em Gilead as mulheres férteis tornam-se aias. Elas são propriedade do Estado e de comandantes ricos que não podem ter filhos. June então recebe o nome de Offred (referência à casa em que ela está – a tradução seria “do Fred”). Offred é uma serva com um único propósito: dar à luz a uma criança saudável.
Todos os meses em seu período de ovulação, Offred é obrigada a participar da “Cerimônia”, que nada mais é do que um nome “formal” para estupro. Offred deita-se em uma cama onde a esposa do comandante segura seus braços, então o homem fica entre suas pernas e o coito acontece. É algo que fere a quem assiste, é brutal, mesmo que a imagem tente demostrar “sutileza” no modo de tratamento, nas cores, nos gestos, nas palavras que são ditas antes e depois do ato. Repugnante.
The Handmaid’s Tale brinca com você, brinca com seu senso de justiça, com sua moral, com seus temores e traça um paralelo com o que vem acontecendo. A polarização de opiniões, governantes preconceituosos, machistas, indivíduos ignorantes que não só pensam, mas também falam coisas que parecem “brincadeira”, de tão absurdas, no entanto, são sérias e devem ser levadas a sério.
As cores dizem muito sobre os elementos que são mostrados ao espectador. A palidez do azul mostra o quanto as esposas dos comandantes são tristes, submissas e amarguradas. A fotografia da série é linda, beira à magia, tons de verde, palidez, morbidez. Muito uso do flare, closes, cenas abertas que mostram as aias de cima. As servas vestem vermelho, uma cor que vibra entre a vida e o sangue do sacrifício que elas enfrentam. A impressão que passa é que elas são um exército, mas ainda não sabem disso, pois estão cegas pelo medo.
A trilha sonora é um espetáculo à parte. Ao mesmo tempo que estamos angustiados com o que está acontecendo na cena, ouvimos a trilha crescer e tomar conta de tudo e ficamos “ei, essa música é atual, é de tal cantor...” Isso nos revela que mesmo sendo baseada em uma distopia, a realidade mostrada em The handmaid’s Tale não está longe da que vivemos. É um alerta assustador.
A luta pelos direitos das mulheres está longe de acabar. Este texto certamente será lido por pessoas diferentes, com opiniões diferentes a respeito de diversos assuntos. Mas não julgue uma causa a qual você não conhece. Aprenda a ter empatia por todos que o cercam, as mulheres ainda têm muito a conquistar.
Avante!