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Somos fortes ou somos força

Abuso em um toque, um beijo ou na ausência. O silêncio do outro que nos abandona quando não seguimos o esperado. Ou, pior do que isso, a nossa ausência quando não estamos mais em nós mesmos, porque não é possível suportar. O aborto mal ou bem feito, o olhar de desaprovação, não para o progenitor. O dedo na cara que mais dói é aquele que vemos no espelho. O choro silencioso de um ventre/sepulcro que cruzou o oceano destinado a ouvir acusações, não soluções.


A vida vista sobre o ombro pelos olhos que esperam o próximo ataque. Quando ninguém mais pode, ela ainda encontra recursos para suprir lacunas. O filho preso, o filho doente, o filho morto, o filho que faz sucesso. Os filhos que trouxe ao mundo, os filhos que encontrou no mundo e os filhos aos quais negou o mundo.


Teresinha Francisca Canteli, uma gaúcha de força

Pense em uma mulher forte, pense em você. Esta diante de mim agora é sempre a mais forte de todas. Essa força de mulher não se mede nem se quantifica. A força que às vezes é berro, às vezes é silêncio ou é gemido, é suor, lágrimas, grupo e solidão. A força que é liberdade de muitos sins e também de não. É gozar a liberdade e a liberdade de não gozar.


O desejo era de contar todas essas histórias, mas não foi possível. Por isso apresento uma pequena parte de uma grande história: a nossa.



Em dezembro de 1941, no interior do Rio Grande do Sul, nasceu uma mulher que assumiu a sua vida e cuidou dos que estavam ao seu redor, que optou por continuar lutando após cada surpresa que a vida lhe reservou. Uma pessoa que atrai outras pessoas, que se mantém alerta para os detalhes. Que briga pelo que quer, mesmo que isso possa irritar, mas, talvez, seja por isso que ela tenha conseguido seguir e levar junto consigo mais um monte de gente.


Quando Teresinha Francisca Canteli tinha por volta de 13 anos, o pai viajava com um companheiro de caminhão, o veículo tombou com a chuva, o homem preso sobre a lama morreu pedindo socorro. Depois disso, o pai enlouquecido, não se sabe se por causa da batida na cabeça, ou se pelos pedidos que nunca pôde atender, vendeu tudo o que tinham e investiu o dinheiro em uma farmácia. O empreendimento foi à falência.

Teresinha a princípio ficou dois anos interna em um colégio de freiras, depois foi morar com uma tia. Antes de ir para a escola precisava limpar toda a casa. Depois de casada, com três filhos pequenos e um por nascer, a família mudou para Curitiba. A única irmã faleceu logo após se casar. Anos depois, com o falecimento da avó, Teresinha trouxe os pais que haviam ficado no Rio Grande do Sul. Para que os filhos pudessem estudar batalhou bolsas de estudos, e pagou a faculdade da mais velha, sempre com sacrifício. Conta que sem máquina de lavar roupas, tinha que cuidar da casa antes de sair para trabalhar. Tinha 52 anos quando o marido faleceu. Teresinha assumiu o trabalho dele como representante de vendas, e com menos recursos do que outros vendedores, assumiu com frequência a posição de campeã de vendas.


Parou de viajar a trabalho só depois dos 65 anos, para poder cuidar melhor da mãe que precisava de andador para caminhar, devido a uma fratura no fêmur e consequente cirurgia. Há quatro anos a mãe Ortenilna faleceu, mas Teresinha continua encontrando pessoas para cuidar. Mas essa é só uma parte dessa história. A nossa, que ainda se escreve no tempo e na história.

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Texto e fotos: Liliane Jochelavicius, Curitiba-PR | Especial para Revista F

Edição: Sionelly Leite

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