Eles não têm fronteiras, e seu amor é sem igual
Na última semana de Setembro os alunos do período vespertino do único colégio de ensino médio da cidade de Alto Paraíso de Goiás já começam a se preparar mental e fisicamente, pois é chegada a temporada de projetos no colégio. A maior parte deles é desenvolvido pelos alunos e professores, e atualmente o que teve mais destaque foi um projeto de ajuda e conscientização humanitária, desenvolvido inicialmente pela professora de línguas, Maria José Ferreira da Silva.
Apresentação dos trabalhos acadêmicos para a comunidade em 2016
O projeto começou com a tradução de um texto nas aulas de Espanhol e Inglês, com os alunos do 3º ano vespertino do ensino médio, em 2013. No ano seguinte, o projeto já estava começando a engatinhar sozinho, quando a professora, que ficou responsável por uma turma na feira de ciências da Escola Sagrados Corações, lhes apresentou o filme “Amor Sem Fronteiras”, estrelado por Angelina Jolie, e conta a história de uma moça inocente que se depara com uma situação totalmente diferente de seu cotidiano e a partir daí ela passa a ter conhecimento sobre a UNHCR, agência da ONU de ajuda humanitária e sua atuação na África e em países que vivem em conflito, na época, como Xexenia – os alunos do sétimo ano ficaram tão impressionados com a intervenção do filme, que aceitaram fazer uma sala na feira de ciências sobre os Médicos sem Fronteiras, onde se trazia a história, como o grupo surgiu, por quê surgiu, além de trazer simulações dos campos de ajuda humanitária. Porém, eles não acharam que seria suficiente apenas fazer uma apresentação, então decidiram, junto com a professora Maria José, arrecadar doações na cidade para enviar ao Médicos sem Fronteiras. Foi aí que o projeto começou a tomar a forma.
Com uma caixa na mão e a determinação da turma, o grupo participaram de uma feira que acontece aos sábados na cidade, a fim de concretizar o desejo de realizar uma doação para o MSF. Eles divulgaram sua presença na rádio e a caixa aberta à doações no dia da esperada Feira de Ciências. No final a turma conseguiu arrecadar o valor de R$220,00, além de um enorme orgulho pelo trabalho. Contudo, o mais interessante não foi a quantia arrecada ou sua nota final, mas o que ficou em cada um deles: boa parte da turma se tornou doador dos médicos sem fronteiras, ajudantes virtuais, e sem falar da nova forma como começaram a perceber o mundo a partir daquele pequeno, porém grande, trabalho.
Só que não se encerra aqui a caminhada do projeto MSF; Maria José não se deu por satisfeita, queria algo maior, algo que toda a população de Alto Paraíso parasse para observar. O projeto voltou para o Colégio Estadual Moisés Nunes Bandeira e dessa vez envolveu todo o turno vespertino do colégio. Era o começo de uma grande comoção estudantil. No começo do ano foi apresentado o filme que deu começo ao projeto, “Amor sem Fronteiras”, no final de setembro foi escrito o projeto e no começo de outubro de 2015 o projeto tomava sua forma cada vez mais forte e impactante, tanto os alunos, quanto a professora estavam animados, havia surgido, no meio de tanto entusiasmo, a ideia da arrecadação para doação a MSF, onde cada turma estava incumbida de suas arrecadações, e também abrir a escola ao público da cidade para a apresentação dos trabalhos desenvolvidos, 14 ao todo, com o tema principal “Os caminhos da vacina”.
Durante todo o mês, o que não faltou foi trabalho, todos envolvidos com a decoração, arrecadação, organização dos trabalhos e ensaios artísticos enquanto a professora de línguas organizava a vinda de um dos médicos do projeto para o dia das apresentações. O projeto começava a ganhar mais vida e com a notícia de que um dos médicos poderia comparecer ao dia, o corpo discente se empenhou ainda mais.
No grande dia, com todos vestidos de branco, houve o juramento à bandeira, a fala do Diretor José Antonio de Brito Filho, a da Professora Maria José e a apresentação dos trabalhos, com participações artísticas, também, composições e poemas autorais dos próprios alunos, depoimentos dos alunos da Escola Sagrados Corações sobre sua participação e no final do dia, o momento mais esperado, a fala do Médico que fez parte de algumas expedições dos MSF. No final do projeto, foi arrecadado pelos alunos a quantia de R$2.000,00 para doação ao MSF.
Dia de pedágio na rodovia GO 118, em Alto Paraíso de Goiás
No ano seguinte, 2016, a exaltação pelo sucesso do ano anterior, o projeto MSF deu um gigante passo e começou a ser desenvolvido de uma forma totalmente diferente dos outros anos, estava mais organizado e mais colaborativo. O trabalho todo teve como base a metodologia de gestão e desenvolvimento de projetos TEvEP, criada por Eduardo Shana, diretor da escola de planejamento Homosapiens, localizada em Minas Gerais. Nesse ano o projeto contou com a ajuda e colaboração dos Professores Luciano Campos e Rejane Kelly Lacerda - professores de História e Geografia, Educação Física e HCAD (História e cultura afro Descendente) respectivamente – o que tornou possível realizar o projeto muito maior do que todos os outros anos. Só no começo já havia sido decidido apresentar o projeto em três dias, aberto ao público, com apresentações artísticas e trabalhos acadêmicos e, ainda, a arrecadação para doação, que não seria somente de capital, mas também de roupas e alimentos para cestas básicas.
Assim, começava a parte "dura" do projeto: cada grupo começou a trabalhar em seus temas, nas arrecadação, que nesse ano seria feita por todas as turmas e na qual foi realizado o pedágio na entrada da cidade. Todos queriam algo muito maior para aquele ano, então, as turmas decidiram realizar os trabalhos em banners, ao invés de utilizarem cartolinas; e não ficou só por isso, a decoração também foi realizada pelos alunos, com a atualização do mapa onde havia atuação dos MSF no mundo e a bandeira de MSF também. Houve, também, mais divulgação na cidade e fora dela, e a tão esperada a presença da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), para onde seriam endereçadas as roupas arrecadadas nas doações; enquanto que as cestas básicas foram dirigidas para algumas famílias mais carentes da cidade, dando início, assim ao “lema” do trabalho, Pensar e Agir Local e Globalmente. Haviam marcado presença, também, o Corpo de Bombeiros de Planaltina de Goiás, falando de defesa civil, e a Enfermeira do Hospital de Base de Brasília Marta Conterno, que falou de saúde comunitária.
Os dias das apresentações estavam divididos: no primeiro dia, aconteceria a apresentação dos trabalhos, 14 ao todo, com o tema principal Migração e Imigração: Causas e Consequências, onde foram esclarecidas algumas questões pelo professor Marcelo Terra. No segundo dia foi realizada a oficina “Ensinando o que aprendemos”, onde o público foi dividido em grupos que seriam dirigidos a cada tema apresentados no dia anterior; e no terceiro, as apresentações artísticas, onde foram apresentados peças de teatro, múcicas, poemas e performances baseadas no tema principal e os de cada grupo, cada qual feita pelos próprios alunos. Para MSF, no ano de 2016, foi arrecada a quantia de R$ 1.557,00.
Fala da professora Maria José (no centro) na apresentação do Ponto de Cultura Brasil dos Buritis e do Triô Buriti, grupo de forró local, no Talento sem Fronteira
Neste ano, a professora Maria José, que deu início ao projeto, e os professores colaboradores estão bem mais animados, pois está sendo planejada a “Semana sem Fronteiras” que contará com a participação dos três turnos do Colégio. Mas, por enquanto é um sonho, que poderá se tornar realidade.
“MSF, lindo grupo de heróis, que ajudam, que desfazem o que as guerras destroem.
Eles não têm fronteiras seu amor é sem igual, se preocupam com os outros,
então vamos fazer igual.”
Salvando Vidas, música feita pelos alunos do segundo ano vespertino, do ano 2015
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Texto e fotos: Kiara Souza, Alto Paraíso de Goiás (GO)
Edição: Sionelly Leite