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Os impactos de Belo Monte

Centenas de famílias de Altamira, no Pará, sentiram na pele a dor de terem que deixar suas casas onde nasceram, cresceram e viveram por muitos anos. Desde que a Usina Hidrelétrica Belo Monte, no rio Xingu, começou a sair do papel, um projeto de R$ 30 bilhões, moradores antigos tiveram que aceitar uma imposição nem tão bem vinda pela maioria deles.


Os moradores tinham duas escolhas: ou aceitavam uma indenização que variava de 80 a 150 mil por suas residências ou teriam que se mudar para casas populares, construídas pela empresa responsável pelo projeto. A medida, que resultou nessa decisão, faz parte de uma demarcação de segurança denominada de “cota 100”, que obedece a um nível de limite de possíveis alagamentos por conta da barragem.


Sem os amigos de infância, as brincadeiras de rua deram lugar ao celular de Ryvana


No meio de tantas mudanças que mais assustavam do que animavam, estava Ryvana Nazaré Rocha Galvão, 15. A casa onde ela mora não precisou ser removida, mas a de familiares e vizinhos sim, e isso mudou drasticamente a rotina dela. “Meus tios e primos tiveram que sair daqui. Uns receberam indenização e outros foram pra outros bairros planejados. Tenho saudades, porque todo mundo estava perto uns dos outros. Sinto mais falta das brincadeiras de rua”, conta com nostalgia a adolescente, que preenchia o tempo livre com sua atividade favorita, o “pega pega”.


Antes ocupadas por casas humildes, área se transformou em calçadão



Três anos depois de se separar dos amigos Ryvana praticamente vive isolada e se distrai com o telefone celular. A mãe, Raimunda Rocha Siqueira, revela que a rua ficou mais perigosa e que muitos assaltos já aconteceram nas proximidades. “Hoje temos medo de deixar nossos filhos nas ruas, como fazíamos antigamente. A cidade está cada dia mais perigosa.” A dona de casa, que tem limitações visuais, diz que está feliz em não precisar deixar sua casa. “Aqui, tudo é perto, estamos praticamente no centro da cidade. Resolvo quase tudo a pé”. Mesmo satisfeita, Raimunda lembra com carinho dos 18 vizinhos que tinha.


Casas e palafitas dominavam as margens do igarapé antes de Belo Monte


Segundo a Norte Energia, grupo formado por diversas empresas envolvidas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a área onde antes era ocupada por palafitas está sendo transformada em um grande igarapé revitalizado, com espaços de lazer e prática esportiva. “Se ficar do jeito que está no papel, via ficar muito bonito. Por enquanto não está assim, mas vamos esperar pra ver”, conclui Raimunda.

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Fotos e texto: Lucas de Castro, Altamira-PA

Edição: Sionelly Leite

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