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Vila Ema: o charmoso bairro paulista que mira as estrelas

Entre os 382 bairros que contemplam São José dos Campos e a região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, um chama a atenção de boa parte dos moradores e visitantes. O bairro Vila Ema é tido como nobre e charmoso por ainda cultuar ruas estreitas, árvores, atmosfera residencial misturada à atualidade dos comércios, diversos consultórios médicos especializados e cafeterias gourmet. Além de ser a principal opção para quem procura distração na vida noturna da cidade, com seus incontáveis bares e restaurantes, o lugar carrega histórias que muitos nem imaginam, mas que influenciaram na formação da cidade que é hoje.

Vila Ema na década de 1960: no centro da imagem, no segundo prédio mais alto, é possível ver o Cine Planetário

Foto: Página Facebook Vila Ema



Não se sabe precisar quando o polivalente italiano Remo Cesaroni deixou a cidade de Roma para morar em São Paulo. Doente, se mudou para São José dos Campos para se tratar de uma tuberculose, já que a cidade era referência no tratamento da doença. Curado pelo Doutor Nelson D’avila, uma figura também ilustre, Cesaroni se apaixonou pela cidade e decidiu ficar.


O romano construiu o primeiro hotel de São José, o San Remo, localizado no centro da cidade. Como era astrônomo, em 1943 construiu, em uma de suas chácaras no bairro Vila Ema, o Observatório Galileu Galilei, na época o maior da América Latina e um dos mais importantes do mundo. Possuindo equipamentos de ponta, como o telescópio Dynascope 12.5 inch, se comunicava com outros observatórios, entre eles a NASA (Agência Espacial Americana).


Ainda como empresário, na década de 1960, criou o Cine Planetário, cinema temático que trazia as principais produções mundiais e em suas paredes fixava pinturas de diversos artistas internacionais. Mas antes, em 1957, Remo Cesaroni recebeu o título de “Cidadão Honorário de São José dos Campos” pelos diversos feitos que beneficiaram, não só a cidade, mas também a população. Amante do carnaval, estava sempre em contato com o povo. “No carnaval ele sempre saía, preparava os bailes e sempre distribuía presentes vestido de papai noel”, diz Rogério Majella Bustamante, 59, assessor parlamentar e morador do bairro desde que nasceu.


Maria Conceição Bustamante, aposentada, 57, mora no bairro desde que nasceu



Maria Conceição Bustamante, 57, prima de Rogério, se lembra de outros feitos: “Ele tinha uma perua e quando falecia alguém aqui no Vila Ema saía anunciando pelo alto falante”. Cesaroni sempre quis compartilhar do seu entusiasmo pela astronomia, por isso o observatório era aberto ao público, oferecendo cursos com entrega de diploma. “Ele também anunciou pelos altos falantes o Sputinik, falando que ia passar”, lembra Rogério, apontando para o céu.


Após sua morte, em 1968, suas construções não se mantiveram perante ao desenvolvimento econômico. Onde antigamente estava localizado o observatório, hoje toma a vista para o espaço um prédio na rua que leva seu nome, Rua Comendador Remo Cesaroni. Onde antes estava arquitetado o Cine Planetário, agora é o estacionamento do principal supermercado do bairro. “As peças que sobraram do observatório estão aqui na ETEP”, diz Rogério sobre a faculdade que pretende zelar pelos itens.


Remo Cesaroni em Observatório Galileu Galilei, fundado no ano de 1943.

Foto: Arquivo Público FCCR

Um presságio ou não, os feitos de Cesaroni foram os primeiros passos para o que viria a ser a aptidão da cidade em suas pesquisas aeroespaciais. Com o avanço como polo tecnológico, eram visíveis as mudanças no Vila Ema. A entrada da cidade, que antes ficava no bairro, passou a ser onde foi construída a Rodovia Presidente Dutra com a vinda do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), e o que antes era rural, cedendo suas chácaras para a urbanização, agora dava espaço para os comércios que supriam as necessidades do bairro vizinho de alto padrão.


A transição urbanística ainda é visível, diversas casas estão em obras se adaptando para fins comerciais. Por fim, acaba se tornando um bom negócio a venda dos imóveis pelos seus recentes proprietários que recebem de suas antigas gerações. “Essa casa aqui da frente, ainda do jeitinho que foi construída, era da filha da Dona Maria, que faleceu com 94 anos. Ela vendeu a casa para um advogado que vai construir seu escritório aí”, nos conta Maria Bustamante.


Bairro Vila Ema nos dias atuais: bairro se rendeu à verticalização


E essa mesma antiga geração que ainda sobrevive junto a seu querido bairro não o troca por nada. “Enterramos nosso umbigo aqui”, diz Maria, orgulhosa e sorrindo. E conclui: “E quem saiu quer voltar. Quem saiu entrou em depressão. Chegou até a morrer um senhor aqui que foi para outros bairros. O Seu Domingos vendeu, saiu daqui e entrou em depressão. Teve que voltar”. Atualmente são 2.854 o número de moradores no bairro, conforme Censo 2010 – IBGE, muitos deles orgulhosos por conviveram com o comendador e usufruírem de seus feitos para a cidade.

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Texto: Igor De Paula Quirino, São José dos Campos -SP

Fotos: Página Facebook Vila Ema, Arquivo Público FCCR e Igor De Paula Quirino

Edição: Sionelly Leite

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